As mais de 200 famílias da ocupação Estaiadinha estão completando sete
dias acampadas na calçada da Avenida do Estado, uma das principais vias da
maior e mais rica cidade do Brasil.
Foram despejadas no último dia 16/11, mesmo após insistentes tentativas de
negociação e acordo com a Prefeitura de São Paulo, proprietária do terreno
ocupado. Após a primeira ordem de despejo, a advogada que representa as
famílias conseguiu um prazo de 90 dias para buscar negociação. A Prefeitura
recorreu e obteve a anulação do prazo.
Após isso, em negociação com os moradores, o Secretário de Habitação da
cidade pediu ao Movimento que indicasse terrenos para alojamento provisório das
famílias e eventual construção de habitações. Foram indicados 14. A Prefeitura
alegou depois que não teve tempo para analisá-los antes do despejo. Tempo que
ela própria negou ao recorrer do prazo judicial.
No dia do despejo, por haverem muitas crianças, idosos e gestantes, as
famílias decidiram por sair pacificamente, evitando o confronto.
Saída que teve um custo. Duas mulheres tentaram o suicídio no dia da
reintegração pelo desespero de não ter para onde ir. Uma cortou o pulso e foi
atendida no próprio local pelo SAMU. Outra ingeriu quantidade excessiva de
substância química e foi internada no hospital de Santana.
Mas o que é isso perto da ponte? Num incêndio acidental, mas que não
teria ocorrido sem o incrível despreparo dos funcionários da prefeitura e
oficiais de Justiça, parte da Ponte Estaiadinha foi atingida pelo fogo. Comoção
geral. Quem estava lá viu: os Bombeiros com as mangueiras direcionadas para o
alto, mirando a ponte, enquanto barracos com o pouco que cada um tinha podido
embalar eram consumidos pelas chamas.
Pela imprensa só se ouviu falar do incêndio da ponte e do transtorno
para o trânsito da cidade.
Enquanto isso mais de 80 crianças dormiam em colchões molhados pela água
da chuva na calçada da Avenida do Estado.
Nesta semana nasceram mais duas. Dois bebês recém-nascidos que, ao
sairem com suas mães do hospital, irão direto para suas "casas": a
calçada da Avenida do Estado.
E como a ponte vale mais do que a vida, agora a ameaça é despejar as
famílias despejadas da calçada. Estão atrapalhando a passagem dos pedestres.
Despejá-las onde? Talvez em algum buraco onde não atrapalhem a avenida nem a
ponte.
* Natalia Szermeta. é da coordenação estadual do MTST.
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