sexta-feira, 27 de maio de 2016

O machismo nosso de cada dia

Por José Afonso da Silva

33 homens se juntam para estuprar uma mulher, uma adolescente.
Não satisfeitos, transbordam todo o seu sadismo colocando fotos e vídeos nas redes sociais e ainda têm a tranquilidade de fazer troça com o ato macabro, desumano, repugnante ... ...
Pra muitos, os 33 seriam monstros, bárbaros, animais ou coisas do tipo.
No entanto, embora ajam como monstros, bestas humanas, os 33 são homens como eu e como você.
A esmagadora maioria dos meus amigos, defensores da luta das mulheres por direitos, também ficaram horrorizados e se posicionam de forma clara contra tamanho absurdo.
Mas, e não por acaso, muitos homens nas redes sociais se colocaram do lado dos estupradores: "se estivesse em casa lavando louça isso não teria acontecido".
Esse posicionamento de muitos homens, acontece, de certa forma, porque sofremos uma ofensiva midiática que banaliza a cultura machismo e do estupro, onde se coloca a vítima como responsável pela violência sofrida.
Lembremos de Alexandre Frota narrando um estupro ao vivo na TV Bandeirantes e sendo aplaudido por Rafinha Bastos e por sua plateia, das piadas de Danilo Gentile e tantos outros.
Na política, lembremos das falas de Bolsonaro, dos ministros de Temer, da ausência de mulheres em seu ministério, dos xingamentos a Dilma Rousseff.
Uma elite política conservadora, fundamentalista, que trabalha ardorosamente para travar a luta das mulheres e destruir conquistas já garantidas na constituição. Para esses, lugar de mulher é em casa, cuidando dos filhos e fazendo a janta do marido.
Isso não explica tudo, mas ajuda a entender como que as atrocidades contra as mulheres se tornam cada dia mais corriqueiras e motivo de piadas nas redes sociais para alguns.
Sim, os 33 homens que violentaram e estupravam uma adolescente de 16 anos, são homens, homens assim como eu e como você.
Assim sendo, todos nós, homens, não temos como não nos sentirmos um agressor em potencial, um estuprador em potencial, um machista em potencial, pois assim seremos vistos pela grande maioria das mulheres neste momento.
Ainda mais se consideramos que boa parte dessas atrocidades contra as mulheres são cometidas por pessoas próximas: um pai, um padrasto, um avô, um tio, um irmão, um amigo ou um namorado, como foi caso da adolescente carioca.
Talvez você, ser vivo do sexo masculino (homem), assim como eu, entenda que numa sociedade machista, nenhum de nós (homens) esteja isento de fazer falas ou cometer atos machistas, mesmo que não tenhamos tido a intenção consciente.
Assumir essa possibilidade e essa condição é fundamental para que possamos combater, a partir de nós mesmos, aquilo que é socialmente incutido pelo tempo em nossas personalidades.
Nós homens temos que ter uma postura mais ativa na luta contra o machismo e o sexismo, sendo intolerantes com piadas machistas, com comentários machistas, sexistas e misóginos. Devemos encarar de frente que o problema do estupro é um problema dos homens.
Dito isso, é fundamental valorizar a luta das mulheres, entender o seu protagonismo nesse processo, apoiá-las em seus questionamentos e se colocar ao lado delas contra o machismo naturalizado na sociedade.
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