Por José Afonso da Silva
Com muita festa, doces, salgados,
poesia, música, palavras de ordem, e claro, muita animação, as 2800 famílias do
Acampamento Novo Pinheirinho de Embu das Artes comemoraram três meses desde que
entraram no terreno conhecido como Roque Valente para fazer valer o direito à
moradia.
Durantes estes três meses, os
acampados marcharam por várias vezes para a Câmara Municipal, Fórum do
município, para a sede do CDHU, para o Palácio dos Bandeirantes e travamento da
BR 116
A recente exibição do programa A
Liga, da TV Bandeirantes sobre “Moradias Precárias” é um brinde aos acampados e
uma prova de que é necessário lutar.
Por que Novo Pinheirinho?
O acampamento foi batizado de
Novo Pinheirinho em homenagem as famílias da Comunidade do Pinheirinho de São
José dos Campos, que moravam ali a mais de 8 anos e foram brutalmente
despejadas pela polícia militar e pela guarda municipal a mando do Tribunal de
Justiça de São Paulo, do governador Geraldo Alckmin/PSDB e pelo mega
especulador Naji Nahas.
Foram mais de 2 mil policiais que
se utilizaram do máximo de seu aparato repressivo: cassetetes, cães, cavalaria,
bombas de efeito moral, balas de borracha, espancamentos e repressão
psicológica. O objetivo era um só: dar um exemplo aos outros movimentos
populares que lutam pela moradia de como a polícia, governo e justiça trataria
as novas ocupações dali em diante.
O saldo do massacre, 5 mil
pessoas jogadas nas ruas ou em alojamentos insalubres, cerca de 6
desaparecidos, vários feridos, mulheres estupradas e um trauma psicológico que
ficará pra sempre na memória de quem viveu aquela experiência.
Para que ninguém se esquecesse da
brutalidade do PSDB em São José dos Campos e demonstrar que o movimento popular
não deveria se amedrontar e nem recuar na sua luta, o MTST organizou na
madrugada de 02 de março duas ocupações, uma em Santo André, região do grande
ABC, e outra em Embu das Artes, região sul da Grande São Paulo. Semanas depois,
os companheiros do MTST organizaram uma ocupação na Ceilândia, Distrito
Federal.
Essas ocupações foram batizadas
de Novo Pinheirinho como resposta do povo pobre e necessitado à violência e ao
descaso dos governos.
Judiciário de Embu das Artes cumpriu seu
papel
Ainda no segundo dia de ocupação,
o judiciário de Embu das Artes aceitou pedido de reintegração de posse, movido
por setores travestidos de “ambientalistas” da cidade.
Tendo como mote a transformação
do terreno em parque, esses “ambientalistas”, ao invés de fazer um debate
aberto, coletivo e democrático com a população, levantando a questão de como
garantir preservação ambiental e resolver o déficit de moradias no município, ao
contrário disso, apelaram para a solução da violência contra os pobres.
O judiciário de Embu das Artes,
com a decisão da juíza Bárbara Carola Cardoso de Almeida, foi mais longe, além
de expedir a reintegração de posse, determinou multa de 50 mil reais por dia em
que as famílias permanecerem no terreno. Num lampejo de generosidade, a mesma
estabelece um limite máximo para a multa em “meio bilhão” de reais.
Não satisfeita, a juíza tenta
criminalizar os membros da coordenação do Acampamento, alegando supostas ameaças
de morte feita por um anônimo.
A mesma postura desses setores
ambientalistas e da juíza não foi vista em momentos onde empreiteiras
devastaram áreas inteiras do município, onde mesmo com os alertas dos
moradores, nada se fez.
Também não vê da parte destes a mesma preocupação quando se
trata da construção de condomínios de luxo.
A resposta do movimento popular foi
dada a altura, seja pela quantidade apoio da população, seja pelas declarações de
sindicatos, autoridades e personalidades que se colocaram em defesa do MTST.
Direito à moradia
A moradia é um direito
constitucional garantido no artigo 6° Constituição Federal de 1988. No entanto,
os governos federal, estaduais e municipais não cumprem com a constituição, uma
vez que são pautados pelo lobby das grandes empreiteiras e do mercado
imobiliário.
Esse setor financia candidatos a
presidente, governadores, prefeitos, senadores, deputados e vereadores, depois
cobra a fatura com superfaturamento de obras e concessões governamentais.
Esse setor age por fora da lei
corrompendo os políticos, alterando os Planos Diretores a seu bel prazer e
estabelecendo prioridades distantes dos interesses da maioria da população.
Os planos governamentais para
construção de moradia popular, a exemplo do Minha Casa Minha Vida, esbarram na
especulação imobiliária e na subserviência dos prefeitos e vereadores.
Só resta aos movimentos populares
ocupar os terrenos reservados à especulação imobiliária como forma de pautar o
problema do déficit habitacional e fazer andar os projetos de moradia.
Como muito bem disse a professora
Ermínia Maricato em entrevista à revista Fórum: “...se os movimentos não
ocupam, essa questão não tem visibilidade...”
Um bom exemplo disso foi a
conquista de 896 apartamentos pelo MTST através do Minha Casa, Minha Vida em
Taboão da Serra.
Foram cinco anos de luta e resistência até a conquista do empreendimento
pelas famílias da Ocupação Chico Mendes (Taboão da Serra) e da Ocupação João
Cândido (Itapecerica da Serra).
Só o Judiciário é contra a construção de
moradia
Embu das Artes, de com acordo com
dados do IBGE, tem um déficit de 9 mil moradias. Assim acontece em outros
municípios da Grande São Paulo, não políticas claras para resolver este
problema.
No entanto, a situação do terreno
onde as 2800 famílias do Novo Pinheirinho estão acampadas está bem mais
tranqüila do que em outros municípios.
A CDHU é a proprietária do
terreno e tem projeto para a construção de 1200 moradias no local. Esse projeto
prevê a construção de moradia, preservação da mata e construção de um parque
para uso da população.
Para a construção das moradias,
há apoio do Ministério das Cidades e disposição da Caixa Econômica Federal em
financiar o empreendimento.
No município, há apoio do
prefeito e há decisão unânime da Câmara Municipal também favorável.
A única pedra no caminho é o
posicionamento retrógado do judiciário e o cinismo de pessoas que se dizem
“ambientalistas”, mas apenas quando se trata de atender as reivindicações dos
mais pobres.
O aniversário de três meses de
luta e resistência da Ocupação Novo Pinheirinho de Embu das Artes é um exemplo
de que luta é pra valer!
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