sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Um pesadelo na Idade Média

Por José Afonso da Silva

Hoje, como em qualquer outro dia, levantei, tomei banho, me vesti, peguei os documentos da calça suja e pus nos bolsos da calça limpa. Arrumei minha bolsa, joguei nas costas e fui pra rua. 
Quando saio pelo portão, por pouco não fui atropelado por uma charrete puxada por dois cavalos. Dei um pulo para trás e meus dois pés afundaram na lama, onde quase perdi meu sapato.
Xinguei o condutor da charrete, mas logo vi que dezenas de outras charretes partiam em disparada para o fim da rua.
Por um instante pensei estar passando mal ou ficando louco. A rua não era mais asfaltada. No lugar onde sempre tinha carros estacionados, havia charretes.
Resolvo então por o pé na lama e sigo para onde se dirigiam as charretes. vejo uma aglomeração onde antes existia uma loja de eletrodomésticos, existia uma jornaleira. As pessoas em alvoroço disputavam um exemplar do jornal.
Me aproximo de um senhor bem alinhado, vestindo um terno preto, estico o olho para ver qual era a manchete. Pra minha surpresa, a manchete dizia em letras garrafais que "O primeiro ministro Eduardo Cunha acabara de aprovar um projeto retirando todos os poderes da Rainha Dilma Rousseff".
Não entendi nada e continuei caminhando. Alguns metros à frente me deparo com uma multidão clamando aos gritos "queima essa vagabunda!", "corta o pescoço dessa vaca!", "Estupra essa assassina de zigoto!". 
Olho mais acima da multidão e vejo algo tipo um palco com várias mulheres junto a alguns homossexuais amarrados a um tronco. Pela aparência, tive a certeza de que eles (as) tinham sido torturados (as) e espancados (as).
No palco, incitando a multidão, havia dois homens vestindo preto. Logo os reconheci, um era o reverendo Marco Feliciano e o outro era o cardeal Silas Malafaia. "Vocês acham que homossexuais que destroem nossas famílias devem morrer?". Vocês concordam que mulheres feminista e que não são obedientes aos seus maridos devem ser chicoteadas?". "Vocês acham que bandido bom é bandido morto?". Para cada pergunta feita, a multidão enlouquecida respondia com um grande SIM. Ao mesmo tempo em que jogavam livros que consideravam armas ideológicas nas mulheres e homossexuais que se encontravam amarrados no palco.
Na multidão, identifiquei rostos conhecidos como Kin Kataguire, Marcelo Reis, Magno Malta e vários outros defensores da pena de morte, do fim da maioridade penal e do extermínio da juventude. Todos trajavam camisas e hasteavam a bandeira da Carolina do Norte.
O cardeal Silas Malafaia e o reverendo Marco Malafaia, confirmando o veredito da multidão ensandecida por sangue, chamou então o carrasco.
Es que sobe ao palco o carrasco com um machado na mão. Pra meu espanto, o carrasco era Jair Bolsonaro.
Ele levanta o machado bem alto e olha para a multidão com uma cara de escárnio e sadismo ao mesmo tempo. Tentei gritar para que parasse, mas me faltou a voz. 
Fechei os olhos enquanto o machado descia, foi quando senti alguém batendo em meu ombro. Virei o rosto e vi que era o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Levei um grande susto, pois pensava que ele estivesse morto.
Foi quando acordei, todo suado e atordoado. 

Ufa, era só um pesadelo, ainda bem.

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