Por Kevin Parslow, Partido Socialista (CIT – Inglaterra e País Gales) - 28 de julho de 2012
Espanha e Grécia na
vanguarda da profunda crise econômica, política e social na Europa
A Europa foi o centro da discussão da Escola de Verão do CIT
de 2012, que ocorreu na Bélgica semana passada com 400 participantes. Essa
discussão foi introduzida por Peter Taaffe e houve um grande número de
excelentes contribuições de camaradas socialistas que estão enfrentando situações
reais e imediatas, internacionalmente.
A crise mundial inventou uma série de novas palavras:
“Grexit”, “spanic”, “brixit”, dentre outras, para representar as diferentes
possibilidades na crise. Mas o que ninguém poderá fazer é resolver essa crise
econômica se baseando no capitalismo. Nem mesmo o capitalismo alemão, como a
Chanceler Angela Merkel confessou, tem fontes ilimitadas. Na década de 1920, o
Plano Dawes, sustentado pelo capitalismo americano, salvou a Alemanha e toda a
Europa por seis anos até o Wall Street quebrar e iniciar a Grande Depressão;
isso foi o preço econômico pago para impedir a revolução. Agora, nenhum poder
no mundo pode agir de forma similar para resolver a crise na Europa.
Os capitalistas europeus criaram um Mecanismo Europeu de
Estabilidade (MEE) para socorrer as economias em dificuldades. Mas o montante
das dívidas da Espanha e Itália, os próximos países na linha de fogo, chega a
2,8 trilhões de euros, seis vezes mais que a reserva do MEE! Economistas e
políticos dizem que um colapso do euro é inconcebível, disseram o mesmo da
União Soviética. Em ambos os casos, os capitalistas não conseguiam ver como a
situação poderia se sustentar, todavia não puderam prever seu colapso! No caso
do euro, os eventos trazidos pela crise econômica mundial irá conduzir o seu
desaparecimento. Peter ressaltou que houve 70 colapsos de moedas desde 45.
O CIT previu antes da criação do euro que ele carregava
dentro de si todas as sementes para sua própria destruição. O prolongado
período de crescimento econômico até 2007 impulsionou seu lançamento e fez que
ele durasse tanto tempo. Mas a profunda crise econômica e política, que esta
abalando todas as instituições, faz com que a zona do euro cambaleie de uma
crise para outra.
O Norte da Europa não está imune
O Norte da Europa tem sido afetado pela crise, na Suécia o
desemprego na juventude atingiu 28%. A Escandinávia, particularmente a Suécia,
como Arne Johansson do Rättvisepartiet Socialisterna (seção sueca do CIT)
apontou, já foi modelo de um projeto de estado de bem estar social e da social
democracia, hoje é um modelo de privatização neoliberal dos serviços públicos
sob o governo de direita. Livros estão sendo escritos sobre o desaparecimento
do “modelo sueco”. Os petroleiros têm feito greves na Noruega e a crise é tão
aguda na Holanda que o partido de esquerda, Socialist Party, vem tomando a
frente nas pesquisas de opinião. Até mesmo a Alemanha não esta imune; apesar do
seu crescimento, em parte devido a desvalorização, a longo prazo, do euro comparado
com o “deutschemark”, os partidos governistas tem sido atingidos por maus
resultados nas eleições regionais.
O Leste Europeu e os países da anterior União Soviética
também têm sido devastados pela crise, o que tem causado levantes políticos e
econômicos na Hungria, Romênia e outros lugares. A intervenção do CIT no
Cazaquistão tem mostrado possibilidades de ganhar base para genuínas ideias
socialistas em países ex-stalinistas. Mas é principalmente do sul da Europa
onde a situação social, econômica e política é mais aguda, com Grécia na
vanguarda e Espanha, Portugal, Itália, Irlanda e outros não muito atrás.
Grécia
A Grécia, a pesar de sua economia equivale a menos de 2% do
PIB da zona do euro, é importante para os capitalistas da Europa, a classe
trabalhadora e o CIT. Nós estamos assistindo avidamente como a nossa seção
grega tem enfrentado com garra a tarefa de tirar uma linha política frente a
cinco anos de depressão, condições sociais terríveis, que piora a cada dia,
numa sociedade forçada para trás pelos bárbaros europeus capitalistas,
representados pela “troika” da União Europeia, o Fundo Monetário Internacional
e o Banco Central Europeu. Nas recentes eleições gerais, a maioria dos
eleitores gregos, apesar da redução de comparecimentos, votaram em partidos
contrários aos pacotes de austeridade impostos. No entanto, o sistema
eleitoral, que dá ao vencedor das eleições legislativas 50 mandatos extras,
permitiu ao partido de direita Nova Democracia a formar um governo
pro-austeridade com o ex-socialista PASOK e seu racha, Esquerda Democrática.
Este governo já desistiu (se eles em algum momento foram sinceros com suas
promessas eleitorais) de renegociar o pacote de austeridade aceito pelos
governos anteriores e avançará com novos cortes.
Nossa seção grega enfrenta grandes desafios, defendendo a
classe trabalhadora de ataques, colocando as demandas corretas que possibilitam
avanços na consciência e buscando a melhor tática, para ganhar os mais
combativos dos trabalhadores e da juventude para as ideias marxistas genuínas.
A situação foi explicada graficamente por Nikos Kanellis e Nikos Anastasiadis
da seção grega: as manifestações recorrentes no centro de Atenas, as greves
gerais que não conseguiram derrotar as medidas de austeridade, e o efeito das
eleições como um “terremoto político”, que superou o desânimo depois do
fracasso das greves gerais. Syriza foi de 4% de votos em 2009 para 26% em junho
de 2012 e isso atraiu para suas fileiras ex-apoiadores do PASOK, que pode ser
perigoso se puxar Syriza a direita. De fato, uma falta de linha mais firme e
clara, particularmente sobre o euro, nos últimos dias da eleição pode ter
custado a vitória do Syriza.
Grécia, num certo momento, não irá honrar suas dividias e
será expulsa do euro. A questão de uma nova moeda estará colocada. O euro tem
sido bem associado com a idéia de modernidade comparado com o velho dracma, mas
como os trabalhadores irão se defender se a Grécia (ou qualquer outro país) for
forçado a sair? Portanto, nós não colocamos “Saia do euro”!, mas os trabalhadores,
apesar de sentirem que o euro foi um passo a frente, não tolerarão anos de
dívidas impostas pela Zona do Euro e pressionarão para sair no futuro.
Alguns economistas capitalistas – como os da “Deutsche Bank”
(banco central alemão) - tem levantado a ideia de uma moeda paralela para
funcionar ao lado do euro por um período. Isso teria como efeito a redução dos
padrões de vida através da desvalorização interna. A ruptura da Argentina do
vínculo dólar-peso na virada do século XXI foi acompanhada por moedas
paralelas, mas isso excluiu grupos da sociedade do sistema monetário e
reintroduziu o escambo. Houve uma discussão sobre essa questão na escola e nós
continuaremos a debater o tema.
Esses pontos levantaram a discussão sob quais seriam as
melhores reivindicações para apresentar para os trabalhadores. No entanto, como
Lynn Walsh da Secretaria Internacional apontou, independente do destino do
euro, socialistas na Grécia devem reivindicar o cancelamento das dívidas, a
nacionalização dos bancos e da indústria, a rejeição da austeridade, o controle
do cambio externo e do comércio como parte de um plano socialista que é a única
forma de defender os padrões de vida dos trabalhadores.
Ameaça da Aurora Dourada
A extrema direita na Grécia, na forma do Aurora Dourada,
ganhou cerca de 7% nas duas eleições gerais esse ano. O crescimento da extrema
direita por toda a Europa é o outro lado da moeda desse período de aumento
das ideias socialistas. Enquanto a crise forçará trabalhadores para a esquerda,
a extrema direita irá também ganhar quando as organizações da classe
trabalhadora não derem respostas fortes o suficiente, como já tem sido visto na
Grécia, na Hungria com Jobbik, com os votos da Frente Nacional na França e
outros partidos de extrema direita na Europa. Ter as ideias corretas para
enfrentar a extrema direita, o que significa assumir os problemas sociais que
eles exploram, é vital para as seções do CIT.
Formações alternativas também surgiram onde os partidos
tradicionais, ambos direita e esquerda, tem sido desacreditados pelas políticas
de austeridade pró-capitalistas. O sucesso do partido “Pirata” na Alemanha e o
movimento do comediante Bepe Grillo na Itália mostram o descontentamento com as
“velhas” políticas por toda a Europa.
A situação na Grécia tem elementos de uma guerra civil. Não
é por coincidência as comparações que ocorreram com a República de Weimar na
Alemanha entre 1919 e 1933, e particularmente o regime de austeridade do
Chanceler Bruning, que levou à ascensão nazista. Entretanto, nós temos que advertir
que a ideia de que os capitalistas podem ir diretamente para um regime militar
ou fascismo é errada. A classe trabalhadora terá um número de oportunidades
antes de isto estar colocado, mas socialistas precisam avisar os perigos se a
classe trabalhadora falhar em assumir o poder.
Espanha
Recentemente grande parte do foco da atenção tem passado
para a Espanha, onde a situação lembra àquela que antecedeu a guerra civil.
Medidas de austeridade provocou reações massivas, caracterizado pela marcha dos
mineiros da Astúrias a Madrid para protestar o corte de subsídios no carvão. O
Primeiro Ministro Rajoy enviou um texto durante as negociações da cúpula
europeia, protestando contra propostas de medidas duras, em que disse: “Espanha
não é Uganda”. Infelizmente para ele, foi apontado que a economia da Uganda
estava crescendo enquanto a da Espanha estava encolhendo. A crise bancária
deixou garantias de 100 bilhões de euro diretamente para os bancos da Espanha,
porém isso não vai resolver os problemas subjacentes da economia e o governo
espanhol necessitaria provavelmente de um resgate separado.
A crise na Espanha também levantou o debate da questão
nacional. As regiões autônomas controlam quase 40% dos gastos públicos.
Políticas de austeridade enfrentarão a raiva das nacionalidades e regiões,
especialmente na Catalunha, o país Basco e mesmo em Andaluzia. Um nacionalismo
de esquerda pode se desenvolver, com lutas contra a austeridade combinadas com
sentimentos nacionalistas. Isso também pode ser o caso na Escócia, País de
Gales, assim como a de outros países europeus. O papel dos marxistas é
apresentar um programa sobre a questão nacional que esteja ligada com a luta
contra capitalismo e pelo socialismo.
François Hollande ganhou as eleições presidenciais na
França, e o Partido Socialista as eleições para a assembleia, prometendo
algumas concessões, mas nada na escala de François Mitterrand, presidente que
nacionalizou 38 bancos antes forçados a rever sua política no início dos anos
80. O ceticismo em relação a todos os partidos foi mostrado pela abstenção nas
eleições. Os votos eram mais contra Sarkozy e o UMP que pró-socialistas. O
fator significativo foi o aumento da Front de Gauche (Frente de Esquerda)
liderada por Mélenchon.
Partidos de Esquerda
Como o CIT explicou a partir dos meados da década de 90, a
mudança da antiga socialdemocracia e Partidos Trabalhistas europeus para
abertamente adotar o capitalismo deixou um espaço para as novas formações
apresentarem as ideias socialistas. Partidos como a Rifondazione Comunista
(Refundação Comunista) na Itália cresceu nos anos 90, mas retrocedeu quando
falhou em desenvolver políticas socialistas claras.
A crise tem estimulado a construção e crescimento das novas
formações, incluindo a Front de Gauche, o Partido Socialista na Holanda, Die
Linke (A Esquerda) na Alemanha e outros. O Syriza tem sido empurrado para uma
posição de disputa de governo e pode compor o próximo governo da Grécia quando
o atual cair, o que muito provavelmente ocorrerá e em não muito tempo. O CIT tem
se orientado para essas novas formações que, mesmo ainda não tendo
necessariamente uma grande base de militantes, eleitoralmente representam uma
força onde os trabalhadores e juventude entrarão, nesta ou em organizações
similares, no futuro. O CIT estará presente nessas organizações para dar uma
direção socialista clara para eles.
Peter também fez referência a situação na Irlanda, onde a
United Left Alliance (Aliança da Esquerda Unida), incluindo a seção do CIT, o
Socialist Party, agora tem 5 TD (membros no parlamento) e está comandando uma
campanha massiva contra um novo imposto por domicílio. Sinn Fein, o partido do
republicanismo na Irlanda, pode se tornar o maior partido no sul na próxima
eleição, e uma bancada forte de socialistas podem também ser eleitos. Como Joe
Higgins, um dos TD do Socialist Party, apontou que o partido vem sofrendo
ataques de alguns setores da direita da imprensa, que vem usando um falso
pretexto de uso de “despesas” dos TD para apoiar a campanha contra o injusto
novo imposto domiciliar. O governo está intimidando os não pagadores do
imposto, mas essa campanha pode ser tão grande quanto a “poll tax” na
Grã-Bretanha, que levou à queda da Thatcher.
O governo de coligação da Grã-Bretanha é dilacerado com as
divisões internas, o que tem acarretado um ressurgimento de greves nos setores
público e privado. A “rede nacional de delegados sindicais” (National Shop
Stewards Network) está jogando um papel importante em dinamizar o movimento
sindical. A Coalizão Sindical e Socialista (Trade Unionist and Socialist
Coalition) está começando a fazer um pequeno, mas importante avanço no plano
eleitoral.
A Europa tem se tornado “ingovernável”, já que entra na fase
de “japonesificação”, um longo período de depressão. “Quanta dor os países sob
estresse podem suportar? Ninguém sabe. O que acontecerá se um país sair da zona
do euro? Ninguém sabe. Alemanha talvez considerará sair? Ninguém sabe. Qual a
estratégia a longo prazo para sair da crise? Ninguém sabe. Dada tamanha
incerteza, pânico é, infelizmente, racional. Uma moeda imposta apoiada por
países heterogêneos é irremediavelmente frágil. Até agora, eu não tinha
realmente entendido como os anos 1930 pode acontecer. Agora eu consigo”. Esse
foi o prognóstico sombrio para o capitalismo de Martin Wolf no Financial Times.
Mostra o extremo pessimismo dos capitalistas europeus.
Militância sindicalista
Peter concluiu que marxistas precisam se enraizar na
situação. A geração jovem vigente será “a geração sortuda”. Por 50 anos, os
pioneiros do marxismo na Europa tiveram desenvolvimentos maravilhosos, mas
dariam tudo para poder participar desses eventos atuais. Nós podemos agora
olhar adiante para a revolução socialista que se desenvolve na Europa e
mundialmente.
Em resposta a excelente discussão, Tony Saunois da
Secretaria Internacional ressaltou o crescimento na militância sindical. As greves
gerais que tem ocorrido tem sido manifestações, que alguns dirigentes sindicais
andam muito ansiosos para sufocar. Nessas greves ainda não se levantou a
questão do poder para a classe trabalhadora. Isso virá no futuro, como virá a
necessidade dos trabalhadores se organizarem politicamente, em formações amplas
ou em partidos revolucionários diretamente. No momento atual, ainda teremos um
clima anti-partidário nos maiores países da Europa.
As tarefas do CIT incluem construir nossas próprias seções
mas também lutar por novos partidos de massas com a demanda de transformar
essas novas organizações em parte da luta para transformar a sociedade. Nesse
sentido, nossas seções precisam crescer dentro de partidos maiores e grandes
acontecimentos. Tony disse que nós estamos em uma crise prolongada e em uma
corrida contra o tempo. A questão chave para o CIT é encarar os desafios e
construir nossas forças para transformar a sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário