“Tô cagando pra
vocês” – Diz Kátia Abreu sobre o protesto dos movimentos sociais a sua
indicação ao ministério da agricultura.
Ok, ok, não foram essas exatamente as palavras da
nova Ministra da Agricultura do governo Dilma (PT). Em entrevista para o Jornal
do Tocantins e Radio CBN quando questionada sobre as manifestações dos
movimentos sociais a sua indicação para o ministério da agricultura a ‘nobre’
senadora Katia Abreu (PMDB) declarou que como ministra da agricultura o seu
papel ‘é atender a quem tem terra, quem produz, é a estes que ela deve
satisfação’. Já quem esta lutando por terra deve tratar com o ministério do
desenvolvimento agrário. Por tanto para bom entendedor... O recado dela foi
claro.
A missão de inserir a pequena agricultura na cadeia
do agronegócio
Segundo Kátia Abreu a sua principal missão a frente
do ministério da agricultura será de inserir a pequena agricultura
(agricultores familiares e camponeses) na produção voltada para logica de
mercado do agronegócio. Superando assim, a produção voltada para subsistência.
Nesse sentido a nova ministra da agricultura ressaltou a importância da lei
nacional de assistência técnica e extensão rural aprovada pelo governo que dará
a possibilidade do sistema S entrar com força no campo brasileiro.
É por tanto a consolidação do processo de
antirreforma agraria sob o governo Dilma (PT) denunciado com veemência pelos
saudosos Dom Tomas Balduíno e Plínio de Arruda Sampaio. Que consiste
em capitular a agricultura familiar e camponesa para logica de produção do
agronegócio. O que vai totalmente contra a logica de produção defendida pelos
movimentos populares do campo que defendem uma produção voltada para
agroecologia, soberania alimentar e preservação
ambiental.
Para Kátia Abreu não é necessário criar novos
assentamentos, mas fazer os que já existem tornarem-se produtivos para que
sejam inseridos no mercado, com a logica deste. No Tocantins este projeto tem
se consolidado nos últimos anos com Kátia Abreu entrando em nome do governo
federal em áreas de assentamento com o programa ‘Minha casa, minha vida rural’
e com o Pronatec Rural implementado pelo Sebrae.
Para consolidar o projeto de antirreforma agrária
no Brasil, Dilma Rousseff não poderia escolher um nome melhor. Kátia Abreu
comanda há vários anos a principal organização ruralista do Brasil, a
Confederação Nacional da Agricultura (CNA), foi uma das principais
articuladoras pela aprovação da reforma do código florestal que beneficia os
grandes produtores, articulou uma CPMI no congresso nacional com o objetivo de
criminalizar os movimentos de camponeses sem terra e ferrenha defensora do uso
de transgênicos e agrotóxico na produção de alimentos.
Para senadora pobre deve comer sim alimentos
produzidos com agrotóxico, pois sua produção é mais barata – é fato que isso
pode gerar doenças graves, mas para nova ministra da agricultura o que importa
é o lucro.
Financiada pela construtora OAS com um montante de
925.000.00 (empresa responsável pelo clube de empreiteiras que surrupiaram os
cofres da Petrobrás nos últimos anos como aponta investigações da policia
federal) na disputa por uma vaga ao senado. É também acusada de grilagem de
terras de camponeses pobres no Tocantins, como aponta artigo escrito por Dom
Tomas Balduíno em 2012. E processada no supremo tribunal federal por usar
talões da CNA pedindo contribuição para agricultores para financiar campanhas
eleitorais com o brasão da república.
Suplente de Kátia Abreu é ex-presidente do PT do
Tocantins
Vários setores ligados ao PT protestaram com a
indicação de Kátia Abreu (PMDB) para assumir o ministério da agricultura. No
entanto tais manifestações não passam de farsa, é apenas jogo de cena para agradar
os movimentos sociais que ainda tem ilusão no governo petista.
Pois tal intenção já estava explicita quando Kátia
Abreu deixou o PSD para ir para o PMDB (partido que historicamente comanda o
ministério da agricultura), segundo ela atendendo aos pedidos do
vice-presidente da republica Michel Temer e a um projeto nacional. Como também
a aproximação de Katia Abreu com o governo Dilma, inclusive sendo a porta voz
dessa em áreas de assentamento no Tocantins e outros estados.
Mas, sobretudo pelo fato do primeiro suplente de
senador de Kátia Abreu ser do PT, Donizete Nogueira é ex-presidente do partido
no Tocantins. Por tanto esta muito claro que a direção do PT sabia muito bem da
intenção da presidente Dilma de fazer de Kátia Abreu sua ministra da
agricultura. Si omitiram isso, ou fizeram cara de surpresa foi pura e
simplesmente por jogo de cena.
Fazer do Tocantins o principal ponto de logística
do agronegócio brasileiro
A declaração também é da senadora e agora ministra
da agricultura Katia Abreu. O Tocantins esta localizado em um território
extremamente estratégico para o agronegócio brasileiro. É hoje o principal
corredor de escoação da produção do campo brasileiro na região norte, nordeste
e centro-oeste. O objetivo dos ruralistas é baratear este transporte com a
conclusão da ferrovia norte sul, a duplicação da BR-153 e a construção da
hidrovia Tocantins-Araguaia.
Por tanto o nome de Kátia Abreu para o ministério
da agricultura, uma senadora de um estado que não tem grande força politica e
econômica no cenário nacional não é mero acaso. Mas atende aos interesses de
uma elite agrária que consolida e avança sua força no meio rural brasileiro. E
que para tanto o Tocantins é extremamente estratégico.
A luta por reforma agrária continua. Na lei ou na
marra!
Para nós militantes das causas sociais, que nos
entrincheiramos no Tocantins na luta por uma reforma agrária de fato neste
país. Não vemos motivos para festa. Não há o que comemorar pelo fato de Kátia
Abreu ser a primeira tocantinense a ocupar um ministério ou por ser a primeira
mulher ministra da agricultura do Brasil.
Não, não temos motivos para sentir orgulho de uma
figura que não serve aos interesses do povo tocantinense, mas sim a uma pequena
elite agraria. Kátia Abreu no ministério da agricultura deve ser encarado pelos
movimentos campesinos que não se venderam e nem se corromperam como uma
declaração de guerra do atual governo a reforma agrária.
Por tanto povos do campo, das águas e das florestas
uni-vos!
“A reforma agrária radical é a única que pode
dar a terra ao camponês”.
Ernesto Che Guevara
*Pedro Ferreira Nunes é Educador Popular e
Militante do Coletivo José Porfírio.
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