Desde a madrugada de 09 de outubro,
quando 13 pessoas foram assassinadas na divisa de Taboão da Serra e Embu das
Artes logo após a morte de um policial, a população da Grande São Paulo vive um
clima de medo, pânico e histeria coletiva.
Por José Afonso Silva (escrito para o Jornal Ofensiva Socialista)
Isso ficou demonstrado no dia 29 de
outubro, uma segunda-feira, quando comerciantes repassavam a informação que
motoqueiros ligados ao crime organizado estariam exigindo o fechamento de todo
o comércio.
O suposto toque de recolher havia
sido anunciado nos bairros do Jardim Guaraú, Jaqueline e Dracena (divisa com
Taboão da Serra).
A informação, que a polícia classificou como boato, se
espalhou igual a fogo de palha para os bairros de Taboão: primeiro no Pazzini,
Moabara, Parque Monte Alegre, Intercap,
Mirna, Trê Marias, Centro e depois para bairros do outro lado da BR116 como o
Maria Rosa, Parque Pinheiros e Parque Pirajussara.
Comerciantes fechavam suas
portas, alunos das escolas estaduais tomavam o caminho de volta pra casa, e
trabalhadores se precipitavam do serviço, já que ninguém queria pagar pra ver
se era verdadeiro ou falso o toque de recolher.
Nas redes sociais, dezenas de
relatos eram postados a todo o momento, afirmando que motoqueiros impunham o
toque de recolher e ameaçavam os transeuntes. A imprensa local rapidamente
também começou a espalhar a informação, aumentando ainda mais o pânico.
Marcelo Rezende (TV Record) e Luiz
Datena (TV Bandeirantes), na busca desesperada por audiência, disputavam para
ver quem mais alardeava o caos e o pânico nas ruas e pediam à população para
não saírem de suas casas.
A polícia militar e o governo
Alckmin, por outro lado, afirmavam que tudo estava sob controle. Diziam que a
polícia estava nas ruas e que a população poderia ficar tranquila.
No entanto, no fogo cruzado entre
supostos criminosos do PCC e policiais, muitos inocentes foram agredidos, presos
e muitos perderam suas vidas ao voltar do trabalho, da escola, da balada ou
mesmo por estarem conversando com amigos na rua de casa.
Até o momento, mais de 300
pessoas foram assassinadas, boa parte delas executada sem a menor chance de
defesa por grupos encapuzados que agem com extrema covardia.
Muitas dessas mortes vêm sendo atribuídas
a membros da polícia. Após investigações, vídeos de cinegrafistas amadores e
testemunhas, fica evidente que é disso que se trata em muitos dos casos.
“Senta o aço”
Uma parcela da opinião pública apoiou
esse tipo de ação da polícia. Expressões como “senta o aço”, “solta a coleira
governador”, “bandido bom é bandido morto” se tornaram comuns, justificando uma
ação violenta, revanchista e ilegal por parte das guarnições.
Enquanto escrevo está matéria já chega
a 92 o número de policiais mortos neste ano, na maioria dos casos em horário de
folga. Mas, os policiais devem entender que o grande responsável por este
número de mortes de policiais é o próprio governador do estado que, mesmo tendo
informações sobre um plano para matar policiais, nada fez e até hoje nega que
tivesse esta informação. Se não fosse pela divulgação à imprensa pela Polícia
Federal e por investigadores anônimos da polícia civil, a guarda não ficaria sabendo
de nada até hoje.
Mas também é necessário dizer que
a corrupção crônica instalada na polícia militar é responsável pelas mortes dos
policiais. Deixou a todos perplexos a lista com nomes, endereços e rotinas de
policiais que foi vendida através do batalhão de polícia de Itaquaquecetuba.
A grande verdade é que na guerra entre
PM e PCC, fica cada vez mais difícil identificar de que lado estão os bandidos
e os mocinhos.
A propagação dos conflitos
urbanos deixa claro que o pano de fundo da violência se encontra na
desigualdade social, na marginalização da pobreza e na corrupção da polícia.
É necessário que os
trabalhadores, jovens, sindicatos, entidades estudantis e partidos comprometidos
com os trabalhadores se organizem para impedir que mais vítimas inocentes
paguem pela crise desse sistema podre. Entendemos claramente qual o papel da
polícia na sociedade capitalista e o porquê de sua existência numa sociedade de
classes. Nosso objetivo é desmantelar completamente essa estrutura de poder e substituí-la
por uma autêntica democracia dos trabalhadores.
Para avançar nessa direção e
dialogar com os setores amplos da população, os socialistas precisam defender um
programa transitório para as forças de segurança pública.
Investigação, julgamento e punição de todos
os policiais envolvidos em crimes e repressão aos trabalhadores, bem como
envolvimento em grupos de extermínio, corrupção, etc!
Por um programa de formação baseada no
respeito aos direitos humanos, contra o racismo, a homofobia e o respeito aos
direitos das minorias!
Pelo direito à organização e sindicalização
independente dos policiais!
Eleição democrática dos comandantes das
polícias, com revogação e rotatividade!
Pelo
controle democrático da polícia pelos sindicatos, entidades do movimento popular,
da juventude e organizações de direitos humanos
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