Com
uma votação no senado de 39 a favor, 4 contra e 2 abstenções, o presidente
Fernando Lugo foi deposto. Isso tudo ocorreu sete dias depois da morte de 17
pessoas em um enfrentamento armado entre policiais e camponeses sem terra,
que foram expulsos de uma reserva florestal, em uma nova forma de destituir
presidentes que não são muito simpáticos aos interesses da burguesia
nacional. Eles são depostos desdenhando-se o direito de voto do povo que os
elege, como aconteceu em Honduras quando foi destituído o presidente Zelaya.
Lugo chegou ao poder com uma coalizão de partidos,
entre os quais alguns de esquerda, depois das eleições de 20 de abril de
2008, com uma vantagem de 10 pontos à frente da candidata do Partido
Colorado, partido direitista de tendência liberal conservadora. Assim, Lugo
se tornou o segundo presidente de esquerda que ganha as eleições no Paraguai,
o primeiro depois de Rafael Franco, que ficou no cargo de 1936 até 1937.
Depois dos acontecimentos ocorridos em Curuguaty, 240
km a nordeste da capital, propriedade de um membro do Partido Colorado,
quando o ministro do interior ordenou a expulsão pela força, resultando em 11
camponeses e 6 policiais mortos, eclodiram fortes críticas da opinião
pública, o que gera a demissão do ministro do interior, Carlos Filizzola, e
do comandante da polícia, Paulino Rojas. Cabe ressaltar que esse ministro é
presidente do Partido País Solidário (PPS), e que voltou ao seu cargo de
senador no congreso, para atuar no processo do presidente Lugo. Diferentes
versões dizem que tudo isso é uma armação para tirar o presidente do cargo, a
apenas 9 meses das eleições presidenciais.
Protestos
Após a decisão que tirou Lugo do poder, ocorreram
protestos nas ruas de Assunção, que foram reprimidos de forma violenta, como
ocorreu em Honduras quando houve o golpe contra Zelaya. É de se esperar que
nos próximos dias aumentem os protestos contra esse golpe de Estado.
A farsa é legalizada
Federico Franco foi nomeado como presidente do
governo de facto. Ele era vice-presidente, com fortes diferenças com Lugo, e
se presta a essa armadilha política. Em suas primeiras declarações, ele se
afasta do presidente, anunciando que “Não estive de acordo com o
presidente Lugo em muitas de suas decisões de governo, porque fui eleito,
como ele, em 20 de abril de 2008, para administrar o país, mas ele me
ignorou”. Franco, de 49 anos, tem a experiência política de ter sido
governador do Departamento Central (área metropolitana) entre 2003 e 2008
pelo Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA), atual integrante da aliança
que apoiava o governo Lugo.
Protesto internacional
Após o anúncio da deposição de Lugo, os chanceleres da
União das Nações Sul-Americanas (Unasul), qualificaram a decisão como um “ato
vergonhoso” e anunciaram que emitiriam uma declaração conjunta. Seu
secretario, o venezuelano Alí Rodríguez, repudiou o fato e ratificou seu
apoio a Lugo, e Argentina, Brasil, Bolívia, Venezuela e Equador ainda não
reconheceram o novo governo paraguaio, que qualificaram de “ilegítimo”, e
mesmo o Brasil apoiou a suspensão do Paraguai da Unasul e do Mercosul.
De seu lado, a OEA, em uma declaração ambígua, disse
que se “respeitou o devido processo" no julgamento político de Lugo, em
um debate em que os representantes da Nicarágua, Bolívia e Venezuela
criticaram o que qualificaram de “golpe encoberto”, deixando novamente o
caminho aberto para que coisas como essas continuem acontecendo no
continente.
·
Exigimos que se respeite a vontade popular
que decidiu em eleições livres eleger Fernando Lugo.
·
Fim da repressão contra o povo paraguaio
por parte do governo ilegítimo.
·
Que o povo se organize para derrotar a
farsa montada no Paraguai, para que não aconteça o que houve em Honduras,
onde houve eleições cheias de irregularidades por um governo que chamou essas
eleições sem ter legitimidade popular para isso.
·
Pela unidade latino-americana dos povos,
para que situações como essa não ocorram nunca mais no continente. Por
protestos em todas as embaixadas do Paraguai para repudiar esse novo estilo
de golpe de Estado.
|
sexta-feira, 29 de junho de 2012
Paraguai: golpe mal velado
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário