Imagine que você seja um
jovem de vinte e poucos anos, branco, de ascendência oriental japonesa ... estivesse
saindo de uma manifestação e a caminho do metro, ainda na escada rolante, você seja abordado por policiais de todo tipo e por todos os lados .... Eles pedem seus
documentos, fazem revista apalpando seu corpo, viram sua mochila pelo avesso,
tudo isso a procura de bombas, drogas ou qualquer coisa que lhe enquadre em
crime de terrorismo, tráfico de drogas, black blocs (que não é crime), etc.
Imagine que a abordagem é
filmada por várias mídias independentes e acompanhada por dezenas de outras
pessoas, entre elas jornalistas da grande mídia e um padre, Júlio Lancellotti.
Imagine que mesmo sem
encontrar nada que o incrimine, você é levado para a delegacia e lá descobre
que ficará detido, sem motivo algum.
Já na cela, Imagine que
mesmo você sendo inocente e que nada tenha sido encontrado, você é informado que portava materiais explosivos e logo em seguida,
por mais absurdo que possa parecer, o delegado, ministério público e
procuradores do estado o enquadram no crime de formação de quadrilha ...
Imagine que seus advogados impetrem um habeas corpus para sua libertação, mas
mesmo com os argumentos da sua defesa é negado pelo juiz .. Pois é, esse é o caso de
Fábio Hidek.
Agora imagine que você seja
um jovem, negro ... caminhando sozinho a
noite pela quebrada, de volta pra casa, da escola, da balada, não importa.
Imagine que você cruze com uma viatura da ROTA e é abordado pela mesma ... lembre-se que você está sozinho (não
importa se há gente na rua ou não). Os policiais, já de armas em punho, saltam
da viatura aos gritos de "mão pra cabeça vagabundo!". Com a
delicadeza típica de um policial militar, te jogam contra a parede, chutam suas
pernas, apertam seus bagos e depois pedem seus documentos... Imagine que você
não tenha passagem pela polícia, seja um trabalhador e esteja voltando pra casa
depois de uma cansativo dia de labuta
... teoricamente você ficaria tranquilo, mas os policiais começam a lhe
fazer perguntas "de onde você vem?", "onde você mora?", "tem passagem?", "o que você
tá fazendo na rua nesse horário?", "usa drogas?", "é traficante?". Você responde as
perguntas, se explica e afirma que é trabalhador. Como não encontram nada, e
para não perder a “viagem”, um deles insinua que você rio, não olhou nos olhos
de um deles ou olhou, não importa!, você levará um tapa na cara ou no pé-de-ouvido,
como dizia meu pai.
Dai pra frente, a depender
da sua reação e da sua sorte, o destino determinará se lhe deixarão ir embora, se levarão para a
delegacia ou meterão uma bala na sua testa.
Se lhe deixarem ir embora,
blz, foi um enquadro pra coleção. Se lhe mandarem pra cadeia, você será
torturado e confessará até pacto com Osama Bin Laden, que obviamente será
aceito pelo delegado, pelo ministério público, pelo juiz e seu rosto será
divulgado como mais um marginal capturado pelas forças de segurança do estado.
Mas caso lhe metam uma bala na cabeça, argumentarão que você estava armado,
atirou primeiro e ainda dirão que você é traficante, de preferência um dos
cabeças do PCC. A imprensa divulgará sua morte como um grande feito da polícia militar.
Esses dois exemplos, absolutamente
reais e corriqueiros, demonstram que a polícia que reprime e prende
manifestantes é a mesma que reprime, prende, tortura e mata na periferia.
Também deixa claro que a policial militar não está sozinha nesse esquema, junto
a eles estão escrivães, delegados de polícia, ministério público e juízes,
todos esses contando com a benevolência da grande e pequena mídia.
Defender a libertação dos
presos políticos como Fabio Hidek, mais que defender a libertação de alguém que
foi preso injustamente por protestar, é defender o direito de viver dignamente
sem correr o risco de ser assassinado pelos militares e de não ser julgado
injustamente.
Realidade bem conhecida da
população pobre e negra da periferia.
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