terça-feira, 12 de março de 2013

Hugo Chávez morre – a luta continua

Por Tony Saunois
Do Site do Socialismo, Liberdade e Revolução


Milhões de trabalhadores, pobres e jovens venezuelanos vão lamentar a morte do presidente venezuelano Hugo Chávez
Numa época em que o abismo entre as massas e os políticos do establishment, que defendem o grande negócio e os superricos, parece alargar inexoravelmente, Chávez se destacou. Na verdade, na era da austeridade, as medidas que tomou para aliviar a pobreza se destacou como um farol.
Os trabalhadores e jovens na Venezuela serão acompanhado por muitos ao redor do mundo que foram inspirados a apoiar o regime de Hugo Chávez por oferecer uma alternativa ao neoliberalismo, imperialismo e capitalismo.
Enquanto isso, os mais perniciosos comentaristas capitalistas de direita não pouparam nem tempo nem tinta em suas emanações de ódio contra seu regime.
O luto de sua morte e raiva perante esses ataques devem ser canalizados para uma nova etapa de luta da classe trabalhadora pelo socialismo na Venezuela e internacionalmente.

A hipocrisia dos comentaristas
Desde sua morte, inúmeros artigos têm denunciado Chávez, e seu regime, como um "autocrata", um "ditador", um "caudilho". Alguns tentaram retratar sua morte como o fim de mais um falido regime socialista.
A torrente de veneno vindo desses comentaristas foi preparado já na esperança de que ele seria derrotado nas eleições presidenciais venezuelanas de outubro de 2012, mas teve de ser suspenso naquele momento. Contra as expectativas dos meios de comunicação capitalistas internacionais e seus políticos, Chávez venceu novamente com 55% dos votos, com uma participação de 80%, um resultado que qualquer político capitalista na Europa só podem sonhar.
Esses comentaristas cheios de si, mantiveram-se calados durante a tentativa de golpe em 2002 - apoiado pelo imperialismo estadunidense. Quando esses supostos campeões da democracia atacam Chávez eles ignoram que este tem enfrentado 17 eleições e referendos desde 1998 e venceu 16 delas.
Eles, e os políticos capitalistas por trás deles, não pode se conformar com o fato de que um líder que falou de "socialismo" e da "revolução socialista", e que entrou em conflito com o imperialismo dos EUA e a classe capitalista, pode ganhar tanto apoio popular. Eles também temem o potencial revolucionário do movimento das massas, sobre qual Chávez se apoiava.

"Por ahora" - "por enquanto"
O próprio Chávez não surgiu como um líder político com uma ideologia ou programa acabados. Ele empiricamente abraçou ideias diferentes - arrastado pelo desdobramento dos eventos.
Chávez foi levado ao poder em 1998 com um apoio esmagador. Inicialmente, ele só falou de uma "revolução bolivariana" e reforma do antigo sistema corrupto. Chávez, como milhares na Venezuela, incluindo oficiais do exército do qual ele fazia parte, foi radicalizado pelo "Caracazo" que abalou a Venezuela em 1989.
Carlos Perez tinha ganhado uma eleição se opondo ao neoliberalismo do FMI. No entanto, ele fez uma brusca inversão de marcha e introduziu uma "terapia de choque" de neoliberalismo. Ele provocou um levante de massas da população urbana pobre. O exército foi acionado e cerca de 3 mil foram massacrados. Os oponentes de direita de Chávez têm pouco a dizer sobre estes eventos. Ele foi, porém, radicalizado e afetado por esses horrores.
Ele liderou uma revolta populista da esquerda militar em 1992 contra o governo assassino Perez. Como o golpe foi derrotado, ele proclamou que “a revolução acabou. Por enquanto". "Por enquanto" se tornou arraigado nas mentes das massas.
Libertado da prisão dois anos depois, ele construiu apoio e assumiu o poder na eleição de 1998, com a maioria da população exigindo o fim do neoliberalismo e mudanças profundas.
As reformas limitadas mas populares introduzida pelo seu governo, pagos com a riqueza petrolífera do país, foram o suficiente para enfurecer a elite dominante, que tentou um golpe em 2002, seguido por um lock-out (greve patronal). Após 48 horas o golpe fracassou e Chávez foi trazido de volta a Caracas e ao poder. Durante o golpe as massas foram às ruas para se opor ao regime de direita e uma nova revolta nas fileiras do exército e seus oficiais subalternos ocorreu.

Golpe de direita em 2002
Neste momento, a explosão popular contra o golpe de direita liderado por Pedro Carmona poderia se transformar num golpe decisivo contra a classe dominante e o capitalismo. A classe trabalhadora e os pobres tiveram a oportunidade de tomar as rédeas da sociedade. Infelizmente, neste momento, Chávez optou por defender a "unidade nacional" e um acordo com setores da classe capitalista.
O lock-out que seguiu o golpe foi quebrado depois de uma luta de 12 meses. Em cada ocasião, Chávez foi salvo pelo movimento de massas.
Estes eventos radicalizaram extremamente Chávez, que em 2005 começou a falar sobre a "revolução socialista". Foi neste período que ele também fez referência às ideias de um dos líderes da Revolução Russa, Leo Trotsky, assim como de Karl Marx e fez um chamado a favor da formação de uma Quinta Internacional.
Isso enfureceu tanto a classe dominante venezuelana como o imperialismo dos EUA. Nacionalizações e nacionalizações parciais de empresas significativas foram realizadas. A introdução de um serviço básico gratuito de saúde, junto com programa de educação e alfabetização reforçaram a popularidade do governo. Significativamente, na eleição de 2006 – após esse giro à esquerda - Chávez ganhou sua maior vitória eleitoral, obtendo mais de 62% dos votos!
Este desenvolvimento teve um efeito extremamente positivo em colocar a questão do socialismo de volta na agenda na Venezuela e em certa medida na América Latina e internacionalmente. A ideia da "revolução", até mesmo "socialismo" e uma reforma radical é esmagadoramente dominante na consciência da maioria dos venezuelanos. Este é o legado positivo de Chávez. Há uma clara rejeição de qualquer ideia de voltar para o “antigo regime”.

Golpes contra capitalismo, mas nenhuma ruptura decisiva
No entanto, apesar do discurso radical, em resposta à crise econômica global que começou em 2007, Chávez e o governo bolivariano, em vez de impulsionar um programa de ruptura com o capitalismo, se moveu na direção oposta.
A classe capitalista sofreu golpes mas não foi derrotada, e permaneceu no controle. De dentro do movimento bolivariano surgiu uma nova força - a "boli-burguesia", uma camada poderosa na sociedade que enriqueceu às custas do movimento chavista.
Isto, combinado com o surgimento de uma poderosa burocracia e a deterioração da situação econômica, fez com que, apesar das reformas populares, que o CIT apoia, enormes problemas sociais de pobreza, desemprego, corrupção, violência e criminalidade permanecem. Estes continuam e surgem do fracasso de abolir o capitalismo.
Combinado com uma abordagem administrativa, de cima para baixo, da burocracia e a falta de controle e gestão democráticos dos trabalhadores no processo revolucionário, enquanto Chávez contou com o apoio maciço, também resultou em um descontentamento generalizado e frustração. Recentes greves de professores e metalúrgicos foram reprimidas pelo Estado, medidas que deram uma arma para a direita de bater no regime.

Transformar aspirações socialistas em uma realidade
Se o candidato de direita Henrique Capriles e a direito na Venezuela esperam que a morte de Chávez vai significar um passeio fácil para eles voltarem ao poder, então eles estão enganados. Apesar do descontentamento, a ideia de apoiar o processo revolucionário, o socialismo e a defesa das reformas está profundamente enraizada na sociedade venezuelana.
No curto prazo, é mais provável uma vitória para Nicolas Maduro, o vice-presidente, nomeado por Chávez como seu sucessor, nas eleições. Já está começando uma mobilização dos apoiadores de Chávez e da massa dos pobres para derrotar a direita. Capriles e a direita estão, como Maduro, apelando por calma, paz e unidade. A direita sente sua fraqueza e estão tendo o cuidado de não provocar uma reação das massas.
Enquanto os perniciosos comentaristas de direita têm usado a morte de Chávez para fazer sua propaganda antissocialista hipócrita, outros setores do capitalismo e do imperialismo tem sido mais cautelosos. A declaração cautelosa do presidente dos EUA, Barack Obama, junto com secretário do exterior britânico, William Hague, visa a abertura de uma nova era de cooperação com o futuro governo liderado por Maduro. Eles concluíram que a extrema-direita provavelmente serão derrotados nas eleições e, portanto, deixaram a porta aberta para as tentativas de colaborar com um novo governo "chavista".
Maduro e a liderança chavista não terá a mesma autoridade que Chávez e uma nova era se abrirá após as eleições. As divisões entre as diferentes correntes dentro chavismo pode abrir após as eleições. Setores da classe dominante estão olhando para isso como um meio de finalmente derrotar o movimento chavista.
Essas perspectivas sublinham a necessidade urgente da classe trabalhadora e os pobres a reunir para derrotar a direita, mas em seguida tomar o processo revolucionário em suas próprias mãos, com suas próprias organizações independentes e um programa para transformar as "aspirações socialistas" levantadas por Chávez em uma realidade. A morte de Chávez não marca o fim da luta. Um novo capítulo vai agora começar.

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