Hoje, como em qualquer outro dia, levantei, tomei
banho, me vesti, peguei os documentos da calça suja e pus nos bolsos da calça
limpa. Arrumei minha bolsa, joguei nas costas e fui pra rua.
Quando saio pelo portão, por pouco não fui atropelado por uma charrete
puxada por dois cavalos. Dei um pulo para trás e meus dois pés afundaram na
lama, onde quase perdi meu sapato.
Xinguei o condutor da charrete, mas logo vi que dezenas de outras
charretes partiam em disparada para o fim da rua.
Por um instante pensei estar passando mal ou ficando louco. A rua não
era mais asfaltada. No lugar onde sempre tinha carros estacionados, havia
charretes.
Resolvo então por o pé na lama e sigo para onde se dirigiam as
charretes. vejo uma aglomeração onde antes existia uma loja de
eletrodomésticos, existia uma jornaleira. As pessoas em alvoroço disputavam um
exemplar do jornal.
Me aproximo de um senhor bem alinhado, vestindo um terno preto, estico o
olho para ver qual era a manchete. Pra minha surpresa, a manchete dizia em
letras garrafais que "O primeiro ministro Eduardo Cunha acabara de aprovar
um projeto retirando todos os poderes da Rainha Dilma Rousseff".
Não entendi nada e continuei caminhando. Alguns metros à frente me
deparo com uma multidão clamando aos gritos "queima essa vagabunda!",
"corta o pescoço dessa vaca!", "Estupra essa assassina de
zigoto!".
Olho mais acima da multidão e vejo algo tipo um palco com várias
mulheres junto a alguns homossexuais amarrados a um tronco. Pela aparência,
tive a certeza de que eles (as) tinham sido torturados (as) e espancados (as).
No palco, incitando a multidão, havia dois homens vestindo preto. Logo
os reconheci, um era o reverendo Marco Feliciano e o outro era o cardeal Silas
Malafaia. "Vocês acham que homossexuais que destroem nossas famílias devem
morrer?". Vocês concordam que mulheres feminista e que não são obedientes
aos seus maridos devem ser chicoteadas?". "Vocês acham que bandido
bom é bandido morto?". Para cada pergunta feita, a multidão enlouquecida
respondia com um grande SIM. Ao mesmo tempo em que jogavam livros que
consideravam armas ideológicas nas mulheres e homossexuais que se encontravam
amarrados no palco.
Na multidão, identifiquei rostos conhecidos como Kin Kataguire, Marcelo
Reis, Magno Malta e vários outros defensores da pena de morte, do fim da
maioridade penal e do extermínio da juventude. Todos trajavam camisas e
hasteavam a bandeira da Carolina do Norte.
O cardeal Silas Malafaia e o reverendo Marco Malafaia, confirmando o
veredito da multidão ensandecida por sangue, chamou então o carrasco.
Es que sobe ao palco o carrasco com um machado na mão. Pra meu espanto, o carrasco era Jair Bolsonaro.
Es que sobe ao palco o carrasco com um machado na mão. Pra meu espanto, o carrasco era Jair Bolsonaro.
Ele levanta o machado bem alto e olha para a multidão com uma cara de
escárnio e sadismo ao mesmo tempo. Tentei gritar para que parasse, mas me
faltou a voz.
Fechei os olhos enquanto o machado descia, foi quando senti alguém
batendo em meu ombro. Virei o rosto e vi que era o coronel Carlos Alberto
Brilhante Ustra. Levei um grande susto, pois pensava que ele estivesse morto.
Foi quando acordei, todo suado e atordoado.
Ufa, era só um pesadelo, ainda bem.